Canoa OC6 de madeira é construída no Sul do Brasil


O remador e coach Paulo Gatti, batizou em julho a Mano KiriKiri, OC6 construída manualmente por ele durante os últimos 8 meses, em Porto Alegre.

Em 2015 Paulo sentiu a necessidade de ir mais fundo na cultura da canoa polinésia e construiu, em casa, com as famílias Gatti e Santacreu a primeira V6 Unlimited do Brasil, toda em carbono. E agora, 2 anos depois construiu, sozinho, uma OC6 toda de madeira.

“O fato de ter feito a V6 primeiro aconteceu por acaso, pois a na intenção era primeiro uma OC6. Foi depois de uma conversa com Johnny Puakea no Kauai que surgiu a vontade imediata de construir a V6, no momento havia uma ligação forte entre as duas famílias e eu havia ensinado os meninos a remarem e queria apresentar a eles uma canoa muito rápida. Acreditava que poderia formar ali um time forte.  O fato de ter decidido construir uma canoa OC6 tradicional foi decisivo para que fosse de madeira. Poderia ter sido feita de fibra de vidro, como normalmente, mas preferi juntar as duas coisas: madeira com matérias compostos (como epóxi, fibra de vidro e carbono). Mas ela é principalmente construída de madeira”, comenta Gatti.

Projeto desenhado, Gatti então foi buscar a melhor madeira, a mais leve. E ao encontrar a madeira, encontrou as pessoas que haviam plantado a árvore há mais de 50 anos: pai e filho no interior do Rio Grande do Sul.  E isso foi fantástico, pois o levou mais próximo ao que era feio tradicionalmente na Polinésia, no Tahiti, Hawaii e em todos os pais ligados a essa cultura. Ele se utilizou de técnicas modernas, mas não deixou de seguir a tradição. Colheu a arvore e cortou em tiras as toras de madeira, para construir essa canoa, e então durante 8 meses, dedicou-se completamente a construção desta canoa.

A Mano KihiKihi, assim como a Ikaika Awiwi, foi batizada pelo seu grande amigo Alexey Bevilacqua, responsável por apresentar esse universo a ele.

Paulo diz que “isso faz parte de um estilo de vida da canoa que é maravilhoso, que é ohana, não é só a família de sangue é também a de amigos. Na minha vinda a Porto Alegre também acabei me unindo a um amigo de infância especialista em aviação, para podermos trabalhar nas pranchas construídas e nas canoas. E o Alexey é a mesma historia, foi ele que me mostrou o universo polinésio. Aprendi com ele a ter paciência, pois quando me levou para remar, só voltei depois de 7 anos (risos). Depois de 7 anos senti a necessidade de ter a canoa como estilo de vida”.

“Da mesma forma quando ensinamos: o aluno faz a aula e desaparece, mas a semente foi plantada e as pessoas só vão resolver entrar nesse mundo quando for a hora. Às vezes ensinamos alguém e não temos a resposta imediata, e isso não pode ser decepcionante. As pessoas precisam digerir e sentir necessidade de participar. Por isso, o fato de construir as canoas e os remos, ter ido a fundo na cultura, além de estudar as atividades físicas em geral, por ser minha área, aprende-se muito com a canoa o convívio com as outras pessoas. A oc1 é uma ferramenta individual muito boa para quem quer se dedicar mais, mas a oc6 é um ensinamento contínuo para o grupo, pois se não tiverem todos comprometidos na canoa, ela não anda. Então ter construído essas canoas antes da 0C1 foi importante, pois é o mais voltado para família, o grupo”, ressalta Gatti.

O determinante para construção das canoas, foi o convívio com os amigos Johnny Puakea e o seu pai, Uncle Bob, pessoas importantes no Havaí que constroem canoas de Koa, que são raras. Quando visitou a Fundação Puakea em Oahu ficou maravilhado com a simplicidade do Uncle Bob, que tem como prioridade ensinar às crianças a antiga construção de remos e canoas, mantendo a tradição. “Apesar de não sermos polinésios, isso me anima muito a ensinar às pessoas a manterem a tradição. Isso é importante em todos os lugares cercados de muita água, os havaianos me mostraram isso e tenho muito respeito por eles. Porto Alegre é cercada pela água e perdeu as tradições do remo das décadas de 30 e 40. Eu sigo tentando fazer meu papel, construindo de forma simples”, diz Paulo.

Paulo Gatti afirma que gosta muito de desenvolvimento de produto e por isso suas canoas não tem forma, são construídas de forma artesanal. Quando questionado sobre novos projetos, afirma que é provável que a sequencia seja a construção de OC1 e promete não parar.

“O legal nisso tudo? Como quando coloquei a V6 na água com mais cinco amigos e vi os olhos deles brilhando. Uma realização pessoal minha que se tornou de todos. Quando a gente constrói uma OC6 ou V6 não é os para você, pois não rema sozinho, é para o prazer do grupo. Este comprometimento solitário de construção passa a ter resultado depois para o grupo, isso é o espírito Aloha, que muito é falado e pouco é praticado. “

“Me sinto privilegiada por acompanhar de perto todo o processo de construção da canoa, participar do batismo e poder remar nela. Toda essa experiência tem um significado amplo e especial. Momentos únicos de uma escolha de estilo de vida”, comenta Simone Buttelli.

Entrevista concedida a Simone Buttelli, aluna de Paulo Gatti há 2 anos em Porto Alegre.