PAPO DE CANOÍSTA: Com Ronaldo Chiarelli, um dinossauro da Canoagem


Este ano, Ronaldo completou 35 anos de canoagem e tem muita história para nos contar. É uma lenda viva da Canoagem Brasileira!

Quando eu, Jefferson Sestaro, conheci Ronaldo nas competições no Rio de Janeiro, não imaginava o quanto de história aquele cara simpático, carismático e energizado teria. Energizado sim, pois antes de uma largada, em Cabo Frio, ao cumprimentá-lo apertando sua mão, o cara me fez um barulho de choque, algo soando como “Bizzzz” e logo em seguida soltou a frase “Estou te passando energia!”. Como não sentir essa energia? Como não se envolver ao ver aquela figura caindo na água pra se divertir… É impossível! Em 2015, Ronaldo completa 35 anos de canoagem e tem muita coisa para nos contar… reuni um apanhado de um bate papo com ele, e transcrevo aqui para vocês curtirem.

Ronaldo Chiarelli

Sestaro Canoagem: Primeiramente, para os que ainda não o conhecem, gostaria que se apresenta-se, uma breve biografia sobre a sua vida de canoísta. Quando e como começou a remar?

Ronaldo Chiarelli: Tudo começou no verão de 1979 quando jogava uma partida de frescobol em Ipanema, em frente à Rua Garcia D’Ávila, point da galera malhada e dourada, minha atenção foi desviada para um sujeito que descia as ondas em uma pequena embarcação, desembarcando bem no meio da dupla, parei de jogar e foi ajuda-lo fiquei admirado, pois ele era um PEN (Portador Especial de Necessidade) não tinha a mão esquerda e para remar improvisou um elástico que prendia ao remo. Apresentei-me a ele e conversamos a respeito da pequena nau e ele, Claudio Ribeiro de Aguiar, sugeriu que eu entra-se em contato com a ACC (Associação Carioca de Canoagem) no Leblon onde ele era o Vice-presidente.

IMG_20150702_093458715_HDRE assim foi feito, embora o primeiro contato foi no mar, desenvolvi as técnicas básicas nas corredeiras de Visconde de Mauá, fomentando as primeiras provas de ‘águas brancas’, e no lago do Quitandinha em Petrópolis disputávamos com mais de cem canoístas as primeiras provas em aguas mansas com obstáculos tipo slalom entre boias e bandeirinhas. Mas como todo rio desce para o mar, desci de kayak e participei das primeiras provas de ‘Longa distancia’, ‘Surf’ e ‘Velocidade’ e para coroar a chega ao Mar percorremos em três dias do Rio de Janeiro a Parati, em caiaques duplos especialmente construído pela firma Canoac.

O percurso foi dividido em três etapas: Rio/Itacuruça, Itacuruça/Angra e Angra/Parati. Remamos em media 70 quilômetros por dia para participar do III Encontro Nacional de Canoagem . Isso era setembro de 1984!

SC: Em meados de 1984 como eram os equipamentos? Eram acessíveis ou restritos? Havia mais canoístas? Que tipo de embarcação usava?

RC: IMG_20150702_093029458Não era um esporte, caro. Um caiaque custava Cr$ 150 mil a Cr$ 300. Em 1984, os primeiros remos do tipo Lendal eram laminados e confeccionados pela fabrica Canoac que desenvolveu os primeiros modelos, principalmente o Surfinho, caiaque mais copiado na época, ficando alguns anos participando de competições. O caiaque “Off Shore” 4,0m x 0,60 cm, caiaque usado tanto nas primeiras descida de rios e nas primeiras remadas ao mar. Serviu também de protótipo para o primeiro sea kayak no Rio de Janeiro, o Aqqalu em 1990.

SC: Além do Claudio Ribeiro, você teve alguém de referência para começar a remar? Qual foi o seu estimulo? Havia competições? Como eram organizadas?

RC: Vou Lembrar os que me incentivaram e que já fizeram a passagem para o outro lado do acampamento (faleceram), são Eles: Claudio Ribeiro de Aguiar, Campeão brasileiro e de torneios entre Rio e São Paulo, praticante de halterofilismo e praticante e caça-submarina. Marcos Galvão, canoísta de primeira geração e instrutor de canoagem. Leopoldo Ávila introdutor da modalidade arco e flecha no Brasil trouxe os primeiros caiaques ao Rio de Janeiro em 7 setembro de 1980. Dario Armiv Halboth canoísta e designer, tinha uma fabrica de caiaque. Uwe Peter Kohner Presidente da ACC – Associação Carioca de Canoagem filiando-a a F.I.C (Federacion Internacionale Canoe).

IMG_20150702_092016013Em 6 de julho de 1983 fomos oficialmente reconhecidos e vinculados ao CND – Conselho Nacional de Desporto. Isso significa realmente que agora a Canoagem no Brasil já tem uma entidade representativa. Em 28 de dezembro de 1983 foi publicada no diário oficial, a deliberação nº 12/83.

As competições eram organizadas conforme iam surgindo as Associações que criaram as Federações e a Confederação e nunca mais descansaram. Começamos a fomentar as modalidades que foram sendo conhecidas. Das doze modalidades que conheço, as modalidades Velocidade/Descida/Maratona/Onda/Longa Distância/Polo/Oceânica foram as que impulsionaram a canoagem. O pioneirismo das Associações do Rio de Janeiro (ACC), São Paulo (APC) e do CAALP – Centro de Atividades ao Ar Livre de Petrópolis devem ser sempre lembrado principalmente pela iniciação de que foram responsáveis.

SC: Nesses 35 anos de Canoagem, como foi acompanhar de perto essa evolução? Consegue enxergar daqui a 35 anos como estará a Canoagem?

Sempre competi, trabalho e fomento modalidades de Canoagem. Surfski foi a última. Espero que daqui a trinta e cinco anos, tenhamos um novo presidente e que a canoagem consiga em uma olimpíada, ter condições de conquistar as 19 medalhas de ouro.

Galeria de Fotos do Ronaldo

SC: Qual a sugestão que você pode dar para quem começou agora ou pretende começar na Canoagem?

As dicas serão as mesmas que obteve quando me iniciei na canoagem e a conscientização só veio depois do perrengue, os sinistros.

No mar

  1. Sempre levar Colete-Salva-vidas;
  2. Saber NADAR (Resistência);
  3. Evitar rotas de EMBARCAÇÕES e para rotas maiores;
  4. Sempre levar uma BÚSSOLA (no meu tempo) hoje um Spot;
  5. Sempre levar um remo de reserva (desmontável);
  6. Sempre levar agua para beber;
  7. Sempre levar coberta contra respingo.

Em rios

  1. Usar sempre o colete-salva vidas e capacete;
  2. Sempre inspecionar antes trechos com corredeiras, cachoeiras ou grande declive;
  3. Ter equipamento de emergência devidamente preparado, e estar treinado para usá-lo;
  4. Ter um apito à mão;
  5. Ter uma corda (cabo de nylon de 8 mm e 30 m de comprimento);
  6. Nunca deixar cordas ou cabos soltos.

Em Geral

  1. Sair, de preferência, sempre em pequenos grupos, informando aonde vão e quanto tempo pretende ficar;
  2. Evitar roupas pesadas e que atrapalhem ao nadar;
  3. Garanta sempre a flutabilidade do barco: ele devera flutuar quando inundado, mesmo carregado de equipamento;
  4. Numa capotagem, seja no mar ou em rios, nunca deixe que o barco o atropele.

“A Fluidez das Águas nos ensina que não somos seres sólidos, imóveis, muito pelo contrario, somos poderosos canais de vida em constante transformação. Por isso fluamos para quando sairmos pela manha brilharmos no contraste com o céu. O kayak é silencioso como uma emente. Mas contem a orça da transformação” (Aguas brancas e Oceânica 1980 – 1990 )

“Siga La Vaga, porém se capotar reembarque, ao reembarcar saiba que capotaras de novo, não desesperas, pois cada reembarque a um novo nível te elevaras e mais perto do topo sentiras-te ate que um dia nele permaneceras. Surfski 2003 – 2015