A volta ao mundo de Nelo em caiaque pelas exportações


Crescer 15% ao ano é a ambição do construtor de Vila do Conde, Portugal; “A imagem vencedora é essencial para a promoção”, diz Manuel Ramos

Manuel Ramos - Nelo

É o português mais medalhado nos jogos Olímpicos de Londres e é, também, apontado como o melhor construtor de caiaques do mundo. É, pelo menos, o preferido pela maioria dos campeões da modalidade. O segredo? “É um trabalho feito de qualidade, serviço, exigência, tecnologia, know how”, diz Manuel Ramos, mais conhecido como Nelo, tal como os seus caiaques.

O currículo do primeiro campeão nacional de canoagem, feito de vitórias conquistadas pelos seus barcos no mundo da alta competição e do sucesso obtido pela sua empresa no mundo dos negócios, levou a Câmara de Vila do Conde a convida-lo a participar, hoje, no Fórum “A importância das exportações no contexto atual” para partilhar experiências e indicadores de gestão e, também, potenciar sinergias entre empresas locais.

Num concelho que exporta menos de 600 milhões de euros, mas viu as vendas ao exterior crescerem 3,8% em 2013, a vocação internacional está em empresas como a Arcopédico, no calçado, a Gencoal, nas conservas, e os caiaques Nelo, da M.A.R. Kayaks, com 25 medalhas olímpicas conquistadas em Londres e a ambição de crescer 15% ao ano.

18 embarcações por dia

Nos últimos anos, o ritmo de crescimento da empresa tem oscilado entre os 10 e os 15%, para fechar 2013 com um volume de negócios de cinco milhões de euros. As exportações absorvem 98 % da produção, levando os caiaques made in Vila do Conde a mais de 100 países, da Europa, ao Canadá, Japão, China ou Hong Kong. Sempre com o objetivo de não depender de nenhum país em mais de 6% a 7% da faturação.

“Daqui, saem 16 a 18 embarcações por dia para o mundo. A nossa ambição seria fazermos 20, mas há muito trabalho manual envolvido e as pessoas que temos vindo a contratar demoram tempo a ficar autónomas para trabalhar”, explica o empresário, com 100 colaboradores e a contratar, em média, uma pessoa por mês para ajudar a sua empresa a crescer.

Quando começou a fazer caiaques, em 1978, a canoagem ainda não era uma atividade regulada em Portugal. Terá dado um impulso decisivo para alguns clubes emergentes vingarem e atraírem gente para a modalidade, com a oferta de um produto “ajustado à bolsa dos portugueses”. E a verdade é que em 1979 nascia a Federação Portuguesa de Canoagem.

Foi a inexistência de um mercado pujante que obrigou Nelo a olhar para o exterior. Espanha, estava ali mesmo ao lado, mas o empresário tinha um amigo já a produzir no país e “não quis estragar-lhe o negócio”.

Lutar com os melhores

Olhou, então, mais longe e sonhou alto. Rumou ao Reino Unido sem medo. Foi lá que a canoagem moderna nasceu, havia atletas e clubes bem desenvolvidos. “Era o mercado mais exigente de todos. Era mesmo preciso ser bom vingarlá ” e Nelo queria isso mesmo para superar a concorrência e vencer.

Começou com um parceiro local que conhecia o mercado e tinha uma rede de distribuição local e foi vendo a sua empresa crescer.

A primeira medalha olímpica chegou em Atlanta, em 1996. Em Sidney vieram mais cinco, em Atenas 14, em Pequim 20 e em Londres 25. Em cada taça do mundo de canoagem soma mais umas 100 medalhas.

Conhecer as necessidades dos atletas por ele próprio ter feito canoagem, estar ao lado deles, num trabalho constante de ajuste das embarcações para fornecer barcos personalizados, perfeitamente adaptados às características de cada um, “é decisivo”, reconhece.

Foi assim que nascerem os centros experimentais, ou de treino, onde trabalha com os atletas no ajuste dos barcos e proporciona a proximidade necessária para responder rapidamente à resolução dos problemas de cada um, “numa constante troca de feed back entre construtor e canoísta” porque “o barco deve ser uma extensão do corpo do atleta”. O primeiro surgiu em Cinfães, seguiu-se a Aguieira e, agora, a pensar nas olimpíadas de 2016, está em Cuba.

Dinâmica vencedora

Dados da empresa, mostram que em cada ano estes centros permitem ao país vender 20 mil noites para 850 atletas, resultando num volume de negócios de 1,5 milhões de euros.

Para manter o ritmo de multiplicação das vendas, o líder na canoagem em “águas lisas”, com domínio total das suas embarcações nas provas de sprint e maratona, está a olhar, também, para outras modalidades como o slalom, onde também já conquistou uma medalha, o remo, ou o stand-up paddle. “Temos de alargar os horizontes, procurar áreas que nos permitam aproveitar o know how interno, manter o crescimento e encontrar novos mercados”, diz o empresário.

“O essencial é não nos limitarmos a fazer o que os outros fazem, querermos ser superiores à concorrência. Depois é preciso criar uma dinâmica vencedora. No nosso caso isso significou chegar à alta competição e fazer o caminho ao lado de atletas ganhadores para criar uma imagem de sucesso”, afirma.

Se a canoagem de alta competição pode ser um exemplo para outros negócios, será, diz o empresário, “através de um trabalho de excelência com a consciência de que a imagem vencedora é essencial para a promoção”.

Fonte: Jornal Expresso – Economia, 22/05/2014 e Notícias Canoagem Portugal