Canoagem na orla de Belém atrai pessoas em busca de aventura


Águas da Baía do Guajará refrescam nas altas temperaturas do verão. Esporte ajuda a superar limites com prazer.

Cercada por uma extensa rede de rios, igarapés e furos, Belém é uma capital de localização privilegiada para quem gosta de estar próximo à natureza: sua orla tornou-se ponto de encontro para nativos e turistas que buscam fugir das altas temperaturas atrás da brisa que vem da Baía do Guajará. No verão, suas águas são disputadas por uma turma que busca diversão em atividades como a canoagem.

O dia do padre Idamor Mota, de 40 anos, começa antes do sol nascer. Morador de Ananindeua, na Região Metropolitana de Belém, ele é um dos primeiros a chegar ao Ver-o-rio, uma janela para a baía do Guajará na orla de Belém. O local é administrado pela prefeitura, possui cerca de cinco mil metros quadrados com área verde e é de onde ele sai para remar duas vezes por semana na companhia de um grupo de dez pessoas.

canoagemsol“Eu já corria e andava de bike, mas a canoagem foi uma surpresa. Vim até o grupo por indicação de um amigo, e já no primeiro passeio a gente é presenteado com a paisagem, a água, as matas… Me senti tão à vontade que não tive como não continuar”, conta o padre com pique de atleta.

O sacerdote revela que a experiência pode aproximá-lo de suas origens, que estão no oeste paraense. “Entrar na água e voltar a remar me fez lembrar a minha infância em Oriximiná, quando cruzava o rio nas canoas ribeirinhas. Tem um significado particular para mim”, confessa.

Diversão que virou negócio

Há oito anos, Igor Vianna e Thiago Santos aproveitavam os fins de semana para encarar os rios junto com os caiaques e os amigos, e assim aliviar o estresse do dia a dia na capital paraense. Mas o que era apenas prazer para a dupla tornou-se negócio quando, em 2010, fundaram a Marenteza Canoagem, que ajuda a difundir a prática em Belém.

“Quando nós íamos remar no rio Maguari, os amigos passaram a chamar os outros amigos, o grupo foi crescendo e a gente ia emprestando os caiaques, até que fomos nos profissionalizando, fazendo cursos, começamos a fabricar os nossos próprios caiaques e organizamos a escolinha”, detalha Thiago.

A aula começa na areia, com alongamento de braços e pernas, instruções de segurança, ajuste correto dos coletes salva-vidas, como segurar corretamente o remo, entrar e sair do caiaque e como os movimentos devem ser executados na água.

Às seis da manhã, os alunos que têm idades variadas e diferentes profissões, entram naBaía do Guajará com os equipamentos e percorrem a orla contra a correnteza. O horário escolhido não é a toa: é hora de preamar, indicada pela tabua de marés, que é consultada diariamente em um aplicativo no telefone celular.

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“Além disso, esse horário é o de menor fluxo na orla. Durante o resto do dia, vários tipos de embarcações cruzam a Baía freneticamente, provocando movimento nas ondas, as marolas, e por isso tentamos resguardar ao máximo a segurança do pessoal”, explica o instrutor.

Para Igor e Thiago, a atividade, que possui poucas restrições em sua prática e fixa o limite mínimo de idade de 11 anos do participante, não tem o objetivo de formar competidores, mas resgatar a relação dos paraenses que moram na cidade, habituados ao cenário de prédios e asfalto, têm com os seus rios.

“Apesar de morar em uma cidade cercada por água, rios em diversos locais próximos, a gente tem uma cidade que não está intimamente ligada ao rio. A gente entende que quando não tem essa intimidade, você acaba não cuidando também. Esperamos que o esporte ajude nessa ressignificação”, completa Vianna.

Superação dos limites

empresariaA empresária paraense Ayla Nina Ribeiro, 49 anos, é uma das mais animadas da turma e revela que o esporte proporcionou mais que benefícios ao corpo.

“Eu gosto daquilo que me faz feliz. Antes fazia dança de salão como atividade, mas com a canoagem eu alimento a minha alma. Ver o dia amanhecer aqui, no meio do rio, nos desliga de qualquer problema e deixa a gente de bom humor para encarar os compromissos”, ensina.

Ayla, que está no grupo há oito meses, diz que enfrentar a força das águas a ajudou a superar um limite pessoal, já que ela não sabe nadar.

“Tive que vencer os meus medos e só assim consegui descobrir o quanto eu sou capaz. A primeira vez que atravessamos em direção à Ilha das Onças foi uma sensação indescritível. São quase 10 quilômetros remando de forma intensa, e muitos de nós achamos que íamos ficar pelo meio do caminho, mas com o incentivo de todos que estavam lá, até dos barqueiros que passavam pela gente, chegamos. Me senti uma vencedora”, conta, orgulhosa.

Para a advogada Elizete Rocha, 49 anos, adepta da malhação nas academias, a atividade foi uma maneira prazerosa encontrada para manter a boa forma e encarar o cotidiano de um jeito diferente. Uma hora de canoagem pode queimar até 413 calorias.

“Sou uma privilegiada por, através do esporte, ter todo esse contato com a natureza. Muitos começam o seu dia nas academias, nas praças, e eu remo ouvindo o som dos pássaros, o nascer do sol. Saio daqui pronta, com as baterias recarregadas e corro para vestir o terninho e seguir para o trabalho com as energias renovadas”, revela a paraense.

Fonte: G1