Marinha do Brasil quer ampliar plantel de atletas e mira plano a longo prazo


Com medalhistas olímpicos no quadro atual, organização militar espera colher bons resultados em 2016, mas trabalha para formar atletas competitivos para 2020

Enquanto algumas confederações expressam abertamente seus temores sobre a redução dos patrocínios depois dos Jogos de 2016, a Marinha do Brasil (MB) mantém um discurso otimista para os atletas que contam com seu apoio. Atualmente com 221 esportistas de alto rendimento de 20 modalidades diferentes, a mais antiga das Forças Armadas do país espera ampliar seu plantel até as Olimpíadas do Rio de Janeiro, mas se planeja para manter-se como celeiro de talentos em um projeto de prazo mais amplo, visando 2020.

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Atletas da Marinha, de diversas modalidades, treinam no Cefan (Foto: Helena Rebello)

O “boom” da associação entre atletas de alto rendimento e as Forças Armadas ocorreu principalmente devido à proximidade dos Jogos Mundiais Militares, realizados no Rio de Janeiro em 2011. O Brasil teve o retorno do investimento a curto prazo ao liderar o quadro de medalhas da competição. O cenário animador fez com que isso fosse ampliado, com um número ainda maior de atletas vinculados às organizações militares. No caso da Marinha, foram cinco medalhistas nos Jogos de Londres, incluindo a campeã olímpica Sarah Menezes, no judô.

Campeã mundial de judô, Mayra Aguiar treina no Cefan (Foto: Helena Rebello)

Campeã mundial de judô, Mayra Aguiar treina no Cefan (Foto: Helena Rebello)

Em 2013, com a criação oficial do Programa Olímpico da Marinha (Prolim), a estrutura desta parceria ficou ainda mais organizada, atraindo mais nomes de peso. Atualmente, o quadro de atletas vinculado à MB conta com figuras como a medalhista olímpica e atual campeã mundial dos meio-pesados Mayra Aguiar (78kg), as campeãs mundiais Martine Grael e Kahena Kunze (vela) e Fabiana Beltrame (remo), a vice-campeã mundial Aline Silva, o campeão pan-americano Diogo Silva, entre outros.

Se este time vencedor tem chances de levar o país ao pódio nos Jogos de 2016, outros jovens talentos já estão sendo forjados para o futuro. Atualmente o Programa Força no Esporte (Profesp) e o Projeto Marinha-Odebrecht são os principais responsáveis por fomentar as categorias de base dos esportes que utilizam o Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes (Cefan) como centro de treinamento.

– Para resultados rápidos em 2016 necessitávamos pegar atletas em altíssimo rendimento. Este trabalho está sendo feito, e temos autorizado um efetivo máximo de 242 atletas, e estamos abrindo editais para estas novas vagas. Esse programa vem dando certo, e nossa expectativa é mantê-lo. Mas acredito que cada vez mais a gente vá atuar na base, em um projeto a longo prazo. Nós acreditamos em resultados cada vez melhores – disse o Almirante Carlos Chagas, comandante do Cefan, durante o Media Day promovido pela MB nesta terça-feira.

Vitoria venceu eliminatória brasileira do desafio "Bolt contra o tempo" (Foto: Amanda Kestelman)

Vitoria venceu eliminatória brasileira do desafio “Bolt contra o tempo” (Foto: Amanda Kestelman)

Os primeiros frutos deste trabalho social de formação já estão sendo colhidos. No último fim de semana, no Troféu Brasil de Atletismo, em São Paulo, a Grumete Vitória Rosa alcançou o índice olímpico para 2016 nos 200m. Vale lembrar que, em abril, a velocista de 19 anos venceu a eliminatória brasileira do desafio Bolt Contra o Tempo e correu a final dos 100m ao lado de dois dos maiores nomes da prova: Carmelita Jeter e Veronica Campbell-Brown.

Segurança financeira e estrutura do Cefan como atrativos para os atletas

Quando os atletas entram na Marinha através de editais, o tempo máximo de permanência é de oito anos, com avaliações anuais para confirmação ou não da manutenção do contrato. Desde 2010 como Sargento da instituição, Mayra Aguiar vê muitas semelhanças entre a rotina dos treinamentos de judô com a encontrada nos quartéis.

– O atleta precisa de tranquilidade para treinar, e aqui eles nos dão estrutura tanto esportivamente quanto financeiramente. Eu treino em Porto Alegre mas, quando venho ao Rio, aqui tem tatame, sala de musculação… Consigo vir para cá e fazer todo o meu treinamento. Acho que a disciplina do judô me ajudou bastante. Também fui escoteira e acho que o que eu aprendi também me ajudou aqui. É muito bacana o ambiente, a disciplina e a hierarquia, que tem tanto no judô quanto no militarismo.

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Imagem aérea das instalações do Cefan para os Jogos Militares de 2011 (Foto: Divulgação)

Para receberem suas patentes, os atletas passam por um período de imersão na vida militar. Neste estágio, aprendem técnicas de orientação e sobrevivência, manuseiam armas e são expostos à rotina dos demais oficiais, entre outras atividades. Componente da segunda turma de atletas a ingressar na instituição, Diogo Silva vê a parceria como fundamental para sua profissionalização, e chega a comparar a estrutura do Cefan com outras tradicionais nos Estados Unidos.

– É como imaginar uma Universidade americana. Todos os tenentes que trabalham com a gente têm mestrado ou doutorado em treinamento esportivo, então tem a base da ciência muito forte. Nossos fisioterapeutas também tem ampla experiência. Temos espaço para treinar, descansar, alojamento… É o formato de sucesso dos EUA.

Em 2016, o Cefan será utilizado como centro de treinamento de três modalidades: polo aquático, vôlei e futebol. Ainda não houve, porém, definição de quais países utilizarão a estrutura.

Por Por Helena Rebello, globoesporte.com