Mundial de canoagem tem ex-BBB, jogador de curling e Brasil favorito


Competição tem início nesta quarta com Fernando Fernandes rumo ao penta, um atleta que se divide entre esportes de inverno e verão e Isaquias favorito ao título

Os melhores atletas da canoagem estão na Rússia para a disputa do Mundial da modalidade, que começa nesta quarta-feira, com as provas paralímpicas. Os competidores regulares entram na água na quinta-feira, e as finais estão marcadas para sábado e domingo.

O Brasil chega com chances de medalha com Isaquias Queiroz, atual campeão da prova de canoa 500m, e com Fernando Fernandes, participante do programa Big Brother Brasil, em 2001.

Ele sofreu um acidente em 2008 no qual perdeu o movimento das pernas e tenta alcançar seu quinto título na canoagem paralímpica.

A canoagem faz parte do programa olímpico desde 1936 e tem suas curiosidades. Chamam a atenção as nomenclaturas das provas, atletas com mais de 30 títulos mundiais e uma delegação brasileira bem heterogênea. E não confunda remo com canoagem. Os esportes parecidos, mas bem diferentes.

BRASILEIRO FAVORITO

Isaquias Queiroz canoagem (Foto: Divulgação)

Isaquias entra como favorito ao pódio (Foto: Divulgação)

O Brasil não tem tanta tradição na canoagem. Jamais conquistou uma medalha em Olimpíadas e o melhor resultado da história foi um nono lugar, conquistado por Sebastian Cuattrin em Atlanta 1996. Em Campeonatos Mundiais, o resultado mais expressivo aconteceu no ano passado, quando Isaquias Queiroz conquistou uma medalha de ouro e uma de bronze.

A marca do ano passado coloca Isaquias como um dos principais favoritos ao pódio para o Mundial deste ano, em que ele estará na prova do C1 500m, onde defende o título, C1 1000m, na qual foi bronze no ano passado, e o C2 500m, em que fará dupla com Erlon de Souza.

DO CURLING PARA A CANOAGEM

Stefan é jogador de Curling e atleta da canoagem (Foto: Reprodução youtube)

Stefan é jogador de Curling e atleta da canoagem (Foto: Reprodução youtube)

Entre os inscritos para a prova do K1 200m da canoagem paralímpica está o experiente Stefan Deschl, de 47 anos. E ele é o destaque. Não pelo fato de ser favorito, mas sim por ser competitivo em outra modalidade, o curling em cadeira de rodas. O alemão não conseguiu vaga para as Paralimpíadas de Inverno, disputadas no início deste ano, em Sochi, mas participou do Mundial de 2011.

Ele era sargento do exército alemão no Afeganistão, em 2005, quando uma bomba o atingiu, fazendo perder as duas pernas. Em 2006, começou a praticar canoagem e, paralelo a isso, joga curling. Na Rússia, entrará em ação já nesta quarta-feira.

EX-BBB RUMO AO PENTA

Fernando é tetracampeão (Foto: Divulgação)

Fernando é tetracampeão
(Foto: Divulgação)

Fernando Fernandes foi um dos participantes da segunda edição do Big Brother Brasil, da TV Globo, em 2001. Atlético e apreciador de todos os tipos de esporte, o paulista trabalhava como modelo quando, em 2009, perdeu o movimento das pernas em um acidente de carro. No mesmo ano, começou a praticar canoagem e, em 2010, já era campeão mundial para atletas deficientes.

Quatro vezes medalhista de ouro, Fernando chega à Rússia em busca do pentacampeonato. Na prova de caiaque para uma pessoa, na distância de 200m, ele é o favorito.

NOMENCLATURAS

Quem não conhece a canoagem deve estranhar o nome das provas, mas a explicação é simples. Na nomenclatura das disputas existe o tipo de barco, o número de pessoas presentes e a distância. As competições são disputadas em caiaque ou em canoa. Em inglês, caiaque se escreve com a letra K, por isso, as provas neste tipo de barco são chamadas de K. Quando a disputa é em canoa, o nome é C.

Isaquias Queiroz, por exemplo, é campeão mundial da prova C1 500m, canoa para uma pessoa na distância de 500 metros. O Brasil será representado por Vagner Júnior Souta e Eduardo Fagundes no K2 1.000m, ou seja, caiaque para duas pessoas na distância de 1.000m.

AJOELHOU, VAI TEM QUE REMAR

Dentro da canoagem, as diferenças entre caiaque e canoa são grandes o bastante para impedir que exista um atleta de alto nível que dispute as provas nas duas categorias. Na canoa, os atletas vão ajoelhados na embarcação e, com o remo de apenas uma pá, alternam o lado da remada. No caiaque, os atletas vão sentados e, com o remo com pá em duas extremidades, fazem movimentos repetidos para deslocar a água dos dois lados.

À esquerda, as provas de canoa, e à direita, o caiaque

À esquerda, as provas de canoa, e à direita, o caiaque

CANOAGEM NÃO É REMO

Remo e canoagem são modalidades semelhantes, mas ao mesmo tempo muito diferentes. Não existe histórico de um atleta que tenha brilhado nos dois esportes. O começo da prova já é diferente, visto que, na canoagem, a posição do canoista é sempre no mesmo sentido do barco, ao contrário da feita pelo remador, que fica de costas para o sentido da remada.

Acima, as disputas de remo (de costas para a chegada), abaixo os canoistas, de frente (Foto: Editoria de Arte)

Acima, as disputas de remo (de costas para a chegada), abaixo os canoistas, de frente (Foto: Editoria de Arte)

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DOS QUATRO CANTOS DO PAÍS

Erlon Silva e Ronilson Oliveira estiveram nas Olimpíadas (Foto: Getty Images)

Erlon Silva e Ronilson Oliveira estiveram nas Olimpíadas (Foto: Getty Images)

A delegação brasileira contará com 35 pessoas no Mundial da Rússia. São 13 atletas da canoagem velocidade, oito da paracanoagem, além de oito técnicos, quatro supervisores, um chefe de delegação e um coordenador de comunicação. E os integrantes são de todos os cantos do país.

Os principais nomes da seleção são Niválter Jesus e Isaquias Queiroz, nordestinos. O primeiro é de Ubaiataba, na Bahia, e o segundo de Capela, no Sergipe. Do Sul, vêm as melhores atletas da seleção feminina, Cinara Camargo, de Caxias (RS), e Ana Paula Vergutz, natural de Cascavel (PR). Vagner Júnior nasceu na pequena cidade de Guarantã do Norte, no Mato Grosso, e competirá a prova do K2 1.000m. O litoral paulista também rendeu frutos para a equipe: Angela da Silva, da prova do C2 500m, é de São Vicente, e Ronilson Oliveira, que esteve nas Olimpíadas de Londres, nasceu em Santos.

Na equipe paralímpica, Caio Ribeiro é carioca da gema. Luis Carlos Cardoso é de Picos, no Piauí e o Mato Grosso do Sul é representado por Debora Ribeiro, de Campo Grande, e Fernando Rufino, de Eldorado.

Atletas Canoagem Velocidade

Ana Paula Vergutz
Andrea Santos de Oliveira
Angela Aparecida Elias da Silva
Celso Dias de Oliveira Junior
Cinara de Lima Camargo
Edson Isaias Freitas da Silva
Eduardo Schu Fagundes
Erlon de Souza Silva
Isaquias Queiroz dos Santos
Nivalter Santos de Jesus
Ronilson Matias de Oliveira
Vagner Junior Souta – CRC
Valdenice Conceição do Nascimento

Atletas da Paracanoagem

Patrick Ronald Nunes de Almeida
Fernando Rufino de Paulo
Fernando Fernandes de Padua
Caio Ribeiro de Carvalho
Luis Carlos Cardoso da Silva
Marta Santos Ferreira
Andréa Pontes e Silva
Debora Raiza Ribeiro Benivides

31 VEZES CAMPEÃ

Kovács (direita) é 31 vezes campeã mundial (Foto: Getty Images)

Kovács (direita) é 31 vezes campeã mundial (Foto: Getty Images)

A húngara Katalín Kovács, que deixou de fazer parte da seleção húngara depois dos Jogos Olímpicos de Londres, tem simplesmente 31 medalhas de ouro na história dos Campeonatos Mundiais.

Entre 1998 e 2011, a atleta disputou todos os Mundiais e subiu no lugar mais alto do pódio em 11 edições.

Sua melhor campanha foi em 2006, quando venceu seis provas: K-2 200m, K-2 500m e K-2 1.000m e K-4 200m, K-4 500m e K-4 1.000m.

SÓ JESUS SALVA

Jesus Morlán comanda a seleção brasileira (Foto: EFE)

Jesus Morlán comanda a seleção brasileira (Foto: EFE)

O espanhol Jesus Morlán chegou para comandar a seleção brasileira de canoagem em 2013 e, em poucos meses, viu Isaquias Queiroz conquistar duas medalhas no Campeonato Mundial: um ouro e um bronze. Apesar do trabalho ter conseguido um resultado rápido, o técnico se esquiva da condição de protagonista:

– Eu não ganhei todos os títulos, foi o Isaquias. O mérito é dele – resumiu o treinador.

Como técnico da equipe espanhola, Morlán levou David Cal a conquistar cinco medalhas olímpicas (um ouro e quatro pratas) e se tornar o atleta com mais medalhas olímpicas em toda história do país.

A IMPORTÂNCIA DE SABER NADAR

Dienifer D’Avila Loreto faleceu no início do ano (Foto: CBCa)

Dienifer D’Avila Loreto faleceu no início do ano (Foto: CBCa)

No início do ano, uma tragédia manchou a canoagem brasileira. Dienifer Loreto, de apenas 15 anos, morreu afogada enquanto treinava em uma represa em São Paulo. Ela fazia parte da seleção brasileira das categorias de base. O regulamento oficial de qualquer competição internacional mostra que todo o competidor deve saber nadar e, no caso de deficiência nesta habilidade, é obrigatório vestir colete salva-vidas.

Não é incomum barcos virarem antes das provas ou mesmo durante as disputas. Nos Jogos Pan-Americanos de 2007, por exemplo, a embarcação da dupla brasileira formada por Nayane Pereira e Ariela Pinto virou antes da largada e elas, favoritas ao pódio, sequer começaram o percurso.

Fonte: GLOBOESPORTE.COM