Papo de canoísta entrevista Igor Vianna


Igor Vianna é de Belém do Pará e ajuda a desenvolver a canoagem no norte do país

Perfil

Igor Vianna

Igor Vianna

Nome: Igor Vianna
Idade: 27 anos
Local de residência e treinos: Belém do Pará, remo diariamente na baia do Guajará.
Modalidade da canoagem que pratica: Canoagem de Aventura/Canoagem Oceânica.

Primeiramente gostaria de saber sua profissão: a canoagem é a sua profissão? Como você faz para conciliar a profissão e os treinos de canoagem? Complementa seus treinos com algum outro esporte?

Sou formado em Pedagogia pela Universidade do Estado. Sim, canoagem é minha profissão. Sou instrutor da escola de canoagem MARENTEZA e fabricante de caiaques na empresa “O Canoísta”. Não foi fácil tornar a canoagem o meu ganha pão, durante muito tempo a canoagem é que proporcionava plenitude e satisfação, porém eram outros trabalhos que pagavam as contas, mas o cenário está mudando. Conciliar treinos é difícil uma vez que a escola funciona de terça-feira a sábado e em alguns domingos a gente ainda faz uma trip curta ou conduz grupos em expedições. Além de remar gosto de pedalar e correr mas tenho feito pouco de ambos.

Na sua opinião de fabricante de caiaques, como está o mercado no norte do país? Há mais praticantes de canoagem de lazer do que competição? Conseguiremos descentralizar o eixo Rio-São Paulo e cada vez mais ver o esporte em regiões não tão comum nos calendários nacionais?

O meu entendimento é que o cenário da canoagem no Norte e Nordeste do país é de crescimento, o mercado aquece diariamente para a canoagem, prova disso é a boa receptividade que a fábrica de caiaques teve em pouco mais de seis meses de produção e as turmas constantemente cheias na escola de canoagem. A escola de canoagem está no seu terceiro ano e permitiu que dezenas de pessoas tivessem contato com o esporte de forma segura. Sim, existem mais praticantes de canoagem lazer do que competição. Um dado interessante na canoagem de lazer são as expedições realizadas no rio Tapajós, oeste do Estado, por iniciativa de canoístas de Belém e Santarém, reunindo canoístas de vários Estados da Federação numa espécie de um encontro nacional da canoagem. No ano passado participaram canoístas Belém, Santarém, Aveiro, Itaituba, Vitória, Guarapari, São Paulo e Rio de Janeiro. Este ano canoístas de Manaus e Recife também deverão participar.

Em se tratando de competições, estamos tendo as primeiras iniciativas neste sentido. No ano passado através da MARENTEZA, organizamos quatro provas de canoagem. Três na capital e uma na região metropolitana. Aqui as competições tem uma conotação de encontro de canoístas e de superação de desafios pessoais. Acredito que neste ano de 2014 e em 2015 teremos mais e mais canoístas saindo do norte e do nordeste para participar das provas tradicionais do sul, sudeste, centro oeste. Na medida em que o fluxo se tornar uma via de mão dupla, ou seja, quando os canoístas que frequentam as provas tradicionais, se aventurarem a conhecer o Norte/Nordeste, ai sim teremos um cenário favorável para descentralização das provas.

Igor Vianna

Igor Vianna

Conte-nos como foi sua experiência na expedição pelo rio Amazonas, realizada em 2013. Que caiaque usou, como fez com sua alimentação e hidratação? Qual foi o total percorrido? Há outras expedições no seu cronograma pra 2014?

Foi sem dúvidas a maior experiência que eu já vivi em canoagem, digna do rio em que estávamos! Éramos em três, sem barcos de apoio ou suporte externo de nenhuma maneira. Remei com canoístas fortes e experientes, precisei me esforçar pra manter o nível dos caras. Usei um caiaque fabricado por mim mesmo no Paraná, quando fui fazer o curso de laminação. Batizado NEMO. Levávamos toda nossa hidratação e alimentação com a gente. Saíamos de uma cidade ou vila de manhã cedo e só parávamos ao anoitecer, então tínhamos que ter com a gente tudo que fosse precisar pra almoçar , lanchar e se tivesse um imprevisto de dormir às margens do Amazonas. Não foi fácil preparar a comida depois de passar a manhã remando 30/40km. Quando a gente parava eu só queria me jogar no chão e desmaiar! Nos últimos dias eu estava tão cansado, que eu pulava o almoço para aproveitar o tempo para descansar. Não era diferente de noite. Teve vezes que eu só jantei por que o Murdock insistiu. Durante duas ocasiões precisamos vencer mais de 110km diários pra chegar de uma cidade até a outra, remamos por mais de 12h nesses dias. Quando não tínhamos uma cidade em vista era preciso chegar nas vilas antes das 17h pra poder pedir abrigo aos ribeirinhos. Passamos por regiões perigosas com relatos de assaltos de piratas e contrabandistas. Graças ao Pai não sofremos nenhum tipo de problema dessa ordem. Foram 900km. A expedição durou 13 dias e meio. Para 2014 pretendemos descer o Amazonas a partir do Peru.

Vemos muitas mulheres remando em Belém, como está a força feminina na canoagem no norte do país? E na paracanoagem, vocês fazem algum trabalho específico nessa área?

As mulheres estão por trás do sucesso do esporte aqui em Belém. Posso dizer com segurança, se não fossem as mulheres ainda estaríamos engatinhando, elas são maioria na escola, nas trips e nas competições. Ainda sim, não se trata de uma vantagem numérica apenas, nossas canoístas são disciplinadas, prudentes, responsáveis. É admirável vê-las remando! Nas provas eu torço sempre por elas! Não temos trabalho em paracanoagem. Já tivemos casos de cadeirantes tendo contato com o esporte mas a prática não teve continuidade.

O que a canoagem representa hoje para você? Quais foram seus melhores resultados?

A canoagem foi a ferramenta que eu encontrei para me expressar no mundo e me conectar as outras pessoas. Eu venho de uma canoagem que não existia, vamos dizer assim. Quando comecei a praticar, não tínhamos acesso a equipamentos, caiaques, remos , coletes, tampouco tivemos acesso inicial a instrução, formação, aprendizado. Aprendemos empiricamente, com muitos e muitos erros. Foi inclusive essa carência de tudo que tinha relação com canoagem que nos motivou a criarmos a MARENTEZA CANOAGEM, moramos em uma cidade cercada de água e não ter acesso a ela parecia um tanto quanto errado! Isso fez com que muitos de nós desenvolvêssemos o entendimento de uma canoagem para todos, e não uma canoagem só pra gente. Remar é bom, mas remar com amigos é muito melhor. Alguns amigos remando é legal, mas uma dezena de canoístas na água é um cenário de encher os olhos! O que estou querendo dizer com isso é que para os canoístas do norte não basta remar, é imprescindível que os outros sejam ‘”contaminados” pelo prazer de remar. Remar amplia horizontes e muda vidas. Mais do que lugares inesquecíveis, levamos em nossos corações as pessoas que conhecemos através da pratica da canoagem. Não foi difícil perceber que existe muito mais do que ver o sol nascer, atravessar uma baía e se aventurar em águas desconhecidas.

MARENTEZA CANOAGEM

MARENTEZA CANOAGEM

Para nós da Marenteza Canoagem, por trás de tudo isso está o brilho nos olhos de quem vê o sol nascer pela “primeira vez”, mesmo quando já tem 20 ou 50 anos de idade. Está o sorriso alegre e emocionado de conseguir cruzar limites antes supostamente intransponíveis. Esses são sem dúvidas os melhores resultados que obtivemos.

Deixo esse espaço para que você mande uma mensagem aos leitores expressando livremente o que quiser:

Primeiramente eu gostaria de agradecer a oportunidade de falar um pouco sobre canoagem aqui do Norte através dessa entrevista e parabeniza-lo pela iniciativa! Parabéns mesmo!

Amigos canoístas do Brasilzão imenso, fico profundamente agradecido de poder entrar em contato com vocês através desta entrevista!!!!

Estando pelo norte do País não deixem de entrar em contanto com a gente será um prazer recebê-los para um remada!!

A gente se vê na água!