O intercâmbio do canoísta paraense na cidade de Santos plantou a semente de fomentar mais ainda a canoagem no norte do país
Batemos mais um papo com Igor Vianna, que tem 27 anos e é de Belém do Pará. Ele rema diariamente na baia do Guajará, lá em Belém e é sócio-proprietário da Marenteza Canoagem. Igor recentemente visitou Santos e Bertioga com sua noiva Analu, para trocar experiências com canoístas santistas, o que rendeu bons frutos, além de participar de um curso realizado pelo instrutor Christian Fuchs, em Bertioga. Igor já bateu um papo conosco que pode ser lido clicando aqui.
Sestaro Canoagem: Recentemente você visitou Santos, considerada uma capital percursora de diversas modalidades e negócios relacionados à canoagem. Qual foi sua visão sobre a Canoagem em si, em Santos?
Igor Vianna: Salve Jefferson! Eu e minha noiva Analu tivemos o privilégio de visitar Santos. Foi, sem em dúvidas, uma das grandes experiências que tive neste ano envolvendo canoagem! Eu imaginava que ficaria surpreso mas não esperava que fosse tanto! Todas as minhas melhores expectativas foram superadas! Isso não se restringe a canoagem em si mas a cidade como um todo!
Falando em canoagem de forma específica eu não posso dizer que me senti em casa, pq aqui não temos tantos caiaques e guarderias, hehehe, mas me senti bastante acolhido e extremamente bem recebido por todos com que tivemos contato, seja nas guarderias, durante as remadas e também na fábrica que visitamos! Minha visão sobre canoagem foi ampliada de forma significativa por essa oportunidade que tivemos. Como disse em outra ocasião, aqui em Belém viemos de uma ‘’canoagem que não existia’’, não haviam referências, cursos, fábricas, etc. Na busca de conhecer sempre mais sobre o universo da canoagem mantivemos uma posição sempre bem aberta para tudo: a canoagem de rio, de igarapé, de exploração e lazer, de competição. Sempre nos vimos como um grande “família’’ de canoístas e o objetivo principal sempre foi a promoção do esporte para todos. As referências vinham para nós através de estímulos diversos, sejam as fotos, videos, notícias e relatos na internet mas nunca acompanhadas das relações que existem por trás das diferentes abordagens (expedição, lazer, competição).
Tentando ser mais claro, a gente sempre viu o resto do mundo fazendo as coisas e achava que a gente também poderia fazer sem ter maior conhecimento sobre o que estava por trás. Não me entenda mal, não estou querendo dizer com isso que este processo foi ruim ou negativo. Foi bom, fizemos expedições com barcos de competição e competição com caiaques de lazer lentos e pesados. Sem ter alguém para dizer o que era certo e errado fomos fazendo as coisas e nos divertindo, que é o que realmente importava para gente.
A visita a Santos mostrou nitidamente que existe fora de Belém uma distinção clara. Não que isso seja um demérito, e é claro que existem muitos canoístas que apreciam mais de um estilo de canoagem. Avalio, porém, que é muito mais fácil pra vocês se identificarem com uma um estilo específico de canoagem e progredir nele em termos de atividades, equipamentos, eventos, experiências, etc.
SC: Você acredita que a coisa está fluindo bem em Santos ou tem muitas coisas que podem ser melhoradas? Quais por exemplo?
Igor: Acredito que Santos é um grande exemplo para todo o Brasil, que mediante o esforço de incontáveis mãos o esporte progride cada vez mais e que os canoístas de outros estados deveriam se permitir uma visitar a cidade para conhecer e prestigiar essa riqueza que vocês tem ai!
Volto a elogiar a forma com que fomos tão bem recebidos. Talvez isso pudesse ser reforçado, esse receptivo de canoístas de outros estados para conhecerem Santos. Coisas pontuais como foi a visita que fizemos ou ainda um encontro nacional de canoagem!
SC: Na sua visita, pode experimentar modalidades ou embarcações que eram novas para você? O que sentiu ao ter esse contato?
Igor: Sim, tivemos overdose de novas modalidade e embarcações! No ano passado por gentileza da grande canoísta Carmem Lúcia tivemos o primeiro contato com os surf ski aqui em Belém. Aconteceu que ela enviou dois ss para seu filho Wagner que agora mora em São Luís e no trânsito os barcos ficaram algumas semanas sob nossos cuidados. A Carmem gentilmente nos enviou os lemes pelo correio e nos incentivou a usa-los! Foi uma experiência muito bacana! Já há muito tempo admirava os SS pela internet e me imaginava adquirindo o meu próprio.
Fiz poupança, promessa, penhorei um rim, mas até agora meu SS não saiu do sonho! Um dia ele se materializa, de preferência em carbono! Vejo muita gente comentando que os SS são as embarcações do futuro. Avalio que esse é um entendimento raso, os SS hoje vem tomando o lugar das embarcações cabinadas por serem mais velozes, entre outras vantagens. Por outro lado nem todo mundo que rema quer performance. Acredito ainda que esse é um pensamento que favorece mais a segregação que o crescimento e a promoção do esporte. Que o futuro seja de muitos caiaques na água e não apenas de uma embarcação!
Além dos SS tivemos a oportunidade de remar em canoa havaiana com a turma do Canoa Caiçara. Pouco mais de dez anos atrás Belém recebeu uma canoa havaiana, em algumas ocasiões a gente conseguia emprestar essa canoa para as ações de limpeza de rios que a gente promove aqui. Foi o único contato que tivemos, e agora com o contato que tivemos em Santos ficou bem claro que é preciso trazer a canoa havaiana para Belém!
SC: Soubemos que você visitou uma fábrica de caiaques e canoas. O que viu de tecnologia e conseguiu aprender algo novo nessa visita? Acredita que poderá levar técnica de fabricação, conceitos de negócios ou alguma outra oportunidade de Santos para Belém?
Igor: Sim, visitamos a Evolution Canoe e mais uma vez fomos extremamente bem recebidos pelo Diego e por todos os funcionários da fábrica. Tive a oportunidade de ver as canoas sendo feitas a vácuo, coisa que só tinha visto em vídeo pela internet.
Também tirei minhas dúvidas sobre acabamento e materiais com os quais não estamos habituados. Foi muito rico! Acredito que Belém e Santos podem se beneficiar de uma parceria mais consolidada entre fabricantes e canoístas! Santos é o berço da canoa havaiana no Brasil e Belém não conta com nenhuma canoa havaiana. Esta aí uma oportunidade!
SC: Como foi seu curso com o Christian Fuchs em Bertioga? Qual sua comparação do curso com sua experiência em Santos? Acredita que são “Canoagens” distintas?
Igor: Foi sensacional! Fiquei muito satisfeito em conhecer o Fuchs pessoalmente e mais feliz ainda em descobrir que ele esbanja simpatia. Mais do que repassar informações ele consegue fazer você ter curiosidade por aprender. Se Santos deixou bem clara as distinções em modalidades dentro da canoagem, fazer o curso em Bertioga foi a oportunidade de conhecer ainda mais a canoagem oceânica por ser um cenário muito diferente do que a gente encontra em Belém em nossas remadas diárias.
Aqui remamos em rios, igarapés, baías. São rios de grande extensão, sem dúvida, mas a realidade do mar foi bastante diferente. Eu fiquei muito impressionado em ver não apenas tantas ondas mas também o horizonte subir e descer na minha frente na forma de uma parede de quase dois metros de muita água! O susto passou mas ainda fiquei impressionado por muitos dias, sinto que nunca mais vou voltar a ser como era depois das experiências em Bertioga, e isso é ótimo!
Tivemos o privilégio de fazer o curso fora de casa, fora daquilo que estamos habituados. Em Belém planejamos nossas remadas conforme dita a tábua de maré. Se queremos chegar a tal ponto , vamos em dias em que a maré está favorável, seja para ir ou para voltar.
Não consultamos o sentido da ondulação ou dos ventos, a força da corrente é superior a estes fatores. Uma maré vazante “lançante” pode me arrastar por dezenas de quilômetros do meu ponto de partida facilmente. Inexperiente, vim para São Paulo imaginando que não seria diferente do que eu estava acostumado, por dois dias me preocupei se a maré vazante de Bertioga não poderia me arrastar até Santos, afinal em Belém , uma maré vazante faria isso! Foram aprendizados e realidades significativas como essas que fizeram o curso uma experiência de crescimento para a vida toda.
SC: Deixe sua opinião geral de como foi sua visita à Santos.
Igor: Sinto que foi a primeira de muitas outras, ainda neste ano volto a Santos, estou decidido a trazer a canoa havaiana para o norte. Não se trata de uma corrida onde busco o primeiro lugar, não é nada disso! Apenas sinto em meu coração que junto ao caiaque a canoa pode colaborar para aquilo que já buscamos há muitos anos, aproximar as pessoas das águas de forma segura, permitir que elas se apropriem desse ambiente e por consequência passem a valorizar e a preservar cada vez mais.
Esse objetivo, se houver que se concretizar, será no tempo adequado conforme tudo que está planejado para nossa vida lá em cima pelo Poder Superior. Aqui na terra, faço tudo que posso como se as coisas dependessem exclusivamente do nosso esforço, e rezo como se tudo dependesse da vontade de Deus! Parabéns a todos vocês que fazem a canoagem em Santos, que já chegaram a um patamar admirável e que continuam progredindo, foi um privilégio para toda vida vivenciar isto!