O maior desafio de Ricardo Padovan foi concluído: 24 horas remando. “Sair da zona de conforto, quase um estilo de vida”, conclui.
Certo dia, Ricardo estava pesquisando sobre canoagem extrema, e achou nos longos desafios realizados, remar a maior quilometragem dentre o tempo máximo de 24 horas. Uma maneira de fazer algo diferente, nasceu um sonho para Ricardo, ter sua marca pessoal dentre as melhores, para quem sabe um dia ser um recordista.
Tendo o sonho, a partir daquele momento Ricardo precisava estudar a melhor maneira de como tornar realidade. Foram 6 meses se preparando, adquirindo um remoergômetro, voltou a correr depois de 20 anos – quando abandonou o atletismo, treinos de musculação, e nos finais de semana remadas de 40 a 50 km.
O preparo psicológico, foi construído em cima do sonho, sabendo das limitações como canoístas, Ricardo tinha consciência que para estar entre os melhores, precisaria suportar o sofrimento mais que a grande maioria, seria preciso ir muito além do limite para fazer algo grande, e estar entre os melhores.
Os patrocinadores e apoiadores foram escolhidos a dedo, nunca prometo resultado, mas podendo cobrar-lhe empenho e dedicação. Ricardo investi no Surfski V10 Sport da Epic, pois considera a melhor opção com velocidade e estabilidade.
A experiência de outras travessias ajudou na mudança da alimentação, trocando a suplementação líquida por sólida, e com a criação de uma bolsa “canguru”, disponibilizando o alimento entre a mão e a boca.
As condições gerais não favoreciam a quebra de recorde, pois a região é muito fria, o rio estava baixo expondo suas pedras, e a descida estava lenta, outra previsão era de vento forte, mas sem neblina “raro na região”, e o horário da tábua de maré dificultaria a chegada, mas seriam só mais alguns obstáculos a serem superados.
Após conversar com a Confederação Brasileira de Canoagem sobre homologar a marca pessoal, Ricardo comunicou seus apoiadores que dariam segurança pela água, e aguardou a noite menos fria do inverno para partir.
Na madrugada do dia 30, deu início juntamente com seus apoiadores para o maior desafio da vida. O local escolhido foi o rio Ribeira de Iguape em Itapeúna/SP, porém o rio está tão baixo nos primeiros 70 km seu barco não poderia dar apoio, e Ricardo não conhecia o primeiro trecho de 100 km do Desafio.
Às 7h40, entrou na água com temperatura baixa e muito vento, auto suficiente em alimentos para os 70 km iniciais. Sabendo que muita coisa poderia acontecer em 24 horas, sua estratégia foi de remar o mais forte que pudesse durante o dia, para sobreviver de noite.
“Foi uma mistura de alívio por iniciar a conquista de um sonho, por outro lado muita tensão, pois logo no início, a 200 metros da primeira corredeira já se escutava o barulho da água se espremendo para correr entre as pedras”, comenta Ricardo.
A partir deste momento a leitura impecável do rio era obrigatória para manter seu barco íntegro, seu leme inteiro, e o seu sonho vivo. Os primeiros 50 km foi de muitas corredeiras e pedras, tentar escolher o melhor trecho, não bater o barco e o leme e se equilibrar foi uma lição e tanto.
A partir deste trecho, a preocupação era comer e não deixar a média de km/h cair. Mesmo acostumado com travessias solo, Ricardo não imagina o tamanho da alegria quando no quilômetro 80 encontrou Guto e Hugo, seus “anjos da guarda”.
No cair da tarde na cidade de Registro as dores musculares já o incomodavam, e Ricardo pediu para o apoio parar no barranco para se trocar e abastecer os dois camelback de hidratação (água e isotônico), de alimentos e preparar as lanternas para a noite que estava chegando.
Foram duas mudanças de maré que dificultaram bastante as coisas. Ao cair da noite, o vento se fez presente, e Ricardo tinha que escolher bem o trecho a remar pelo rio, pois nem sempre a margem protegida do vento é navegável, “diversas vezes eu encalhei o barco nos trechos assoreados do rio”, comenta Ricardo.
O sofrimento aumentava cada vez mais, mas sem dor não existiria sonho, então quando mais forte Ricardo remava, mais perto do seu objetivo ele estava.
A partir do km 130 a situação foi ficando crítica, latejavam as costas, ombros, quadris e joelhos. Para manter a média, o esforço era desumano, e Ricardo pensava “quanto pior, mais perto do sonho eu estava”.
No km 150 Ricardo já tinha dificuldade para se alimentar e hidratar. Cansava-se ao mastigar, já não conseguia sair no barco para urinar e não tinha força para se levantar. Por 3 vezes teve que trocar de roupa, pois tremia demais.
As marolas do vento molhavam-o a todo momento e na parte de cima suava muito e encharcava a roupa debaixo. O frio era congelante. Ricardo falando ironicamente que iria chegar o km 170, mas não chegava nunca a passagem do km 163 (recorde brasileiro de 24 horas).
Quando passou a marca do km 164, o sonho de ser um recordista estava alcançado e faltava pouco, a partir daquele momento para melhorar a marca.
No km 174, com maré contra subindo o rio e muito vento, Ricardo já não sentia mais dores. Anestesiado, molhado e tremendo muito, começou a perder o sentido, chegando a ter um breve apagão e entrar no meio de uma vegetação, naquele momento optou por manter sua integridade e fechar a marca de 24 horas remando.
“Neste momento acabava de realizar o sonho mais audacioso, o maior desafio da minha vida”, comemora Ricardo.
“Não vou citar nomes para não cometer injustiça, mas sou muitíssimo grato a todos patrocinadores, apoiadores, profissionais envolvidos, teve muita gente envolvida, obrigado amigos, agradeço muito pela energia e boa vibração de todos”, finaliza Ricardo Padovan.
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