Surfski cai no gosto dos amantes da canoagem oceânica


Queremos te convidar agora para conhecer um pouco do Universo do SurfSki.

Texto de Blog Row to Win

Queremos te convidar agora para conhecer um pouco do Universo do SurfSki. Quem fala da modalidade, dos cuidados, do susto que passou no mar, da paixão, é o Supervisor da modalidade Canoagem Oceânica pela Confederação Brasileira de Canoagem e pela CoSurCa (Confederacion Suramericana de Canotaje), Jefferson Sestaro, de 38 anos.

O profissional já foi Campeão da Bahia Maratona de Canoagem 55km 2012, Campeão do Desafio 50k ACOAR 2014 e Vice-campeão Brasileiro de Surfski Duplo 2013, Vice-campeão da Copa Brasil de Canoagem Oceânica 2014.


Essa modalidade ainda é considerada nova? Como tem evoluído, na sua opinião?


Jefferson Sestaro: A modalidade é Canoagem Oceânica – Canoe Ocean Racing – e é bem antiga no Brasil, inclusive foi ela que ajudou a fundar a Confederação Brasileira de Canoagem em meados dos anos 80. Nessa modalidade, eram usados caiaques oceânicos para competição e o Surfski, que é o nome do tipo de embarcação que usamos atualmente, veio para substituir os caiaques oceânicos que eram mais lentos e menos seguros. Oficialmente no Brasil, em 2011 tivemos a primeira competição nacional utilizando o surfski, porém já existe há muitos anos em outros países.

Antes de 2011 tínhamos algumas embarcações surfskis no Brasil porém ainda não muito popularizados por que as importações eram feitas por particulares e eram raras pelos custos. Quando alguns fabricantes nacionais investiram em fazer um modelo próprio, começou a popularizar e em 2011, tivemos nossa primeira competição oficial com a categoria surfski. Que inclusive, era uma categoria a parte de outras na Canoagem Oceânica. Não demorou muito para que essa embarcação tomasse 100% de uso nas competições nacionais, extinguindo assim os caiaques oceânicos das competições. A evolução foi rápida porque todos viram os benefícios de performance e segurança que esse modelo de embarcação proporciona.


Quais os melhores locais para a prática dessa modalidade?

J.S:  O surfski é tão versátil que pode ser utilizado em qualquer local com água. Inclusive em Portugal, muitas escolas de canoagem substituíram caiaques de velocidade por surfskis para introdução na modalidade. Vale lembrar que o Brasil possui mais de 7 mil km de costa litorânea e qualquer praia pode ser um ótimo lugar para praticar a Canoagem Oceânica a bordo de um surfski. Claro que é necessária certa experiência para encarar passar arrebentação, condições do mar, etc. Além da opção de longa distância, também tem a opção de aproveitar as ondas da praia para surfar com um surfski, porém lembrando que cada modelo de surfski atende um tipo de condição de mar.


Conhece Itajaí? O que espera encontrar aqui para a competição? Que vai ser palco da 2ª etapa do Brasileiro?

J.S: Passei muito tempo da minha infância em Penha que é próximo a Itajaí, inclusive quase minha família se mudou para Itajaí nesse período. Minhas lembranças são muito boas principalmente pela parte de mar. Mais recente, visitei Itajaí nas férias com minha esposa e filhos, e não via a hora de remar.  Pelo que vivenciei nessas férias, espero que os competidores possam aproveitar o que a região tem a oferecer. Hospitalidade, locais famosos para lazer, boa comida e o principal, que o mar esteja favorável às disputas de canoagem oceânica durante a etapa do Brasileiro.


O que mais te surpreende/ impressiona nessa modalidade?

J.S: O que mais me surpreende é o potencial que essa modalidade tem e ainda não está claro para todos. Muitos acham que ela é só alto nível e competição, mas que competição não é? O que prego é que além da parte competitiva, existe um estilo de vida surfski. É você ir pro mar se conectar com a natureza. É aproveitar o que tem de melhor naquela condição com seu equipamento. Por mais que você reme todo dia no mesmo lugar, pode ter certeza que cada dia será uma experiência diferente. A comunidade surfski cresce muito ao redor do mundo, com centros especializados onde te oferecem desde o equipamento como hospedagem e a experiência de remar. Na Europa, durante o verão, cada vez mais o pessoal pega seus motorhome, colocam o surfski no rack e partem para as cidades litorâneas em busca das melhores condições. Isso é o estilo de vida surfski.


Qual o perfil dos atletas dessa modalidade?

J.S: Hoje temos diversos perfis de atletas na modalidade, porém o que predomina são os másters, acima de 35 anos. Segunda pesquisa que fizemos em 2015, o perfil é classe A/B, com idade média de 40 anos, 1.78m e 80kg. E a explicação é fácil: o custo do equipamento é um pouco alto. Portanto, as pessoas de mais idade que tem uma condição financeira mais estável conseguem sustentar a compra de equipamento, viagens, etc.

Já passou por algum susto?

J.S: Prezo muito pela segurança e quem está no mar, está passível de sustos. Por isso, procuro sempre anular esse risco, é imprescindível quando você vai remar seguir alguns protocolos de segurança, como tentar não ir sozinho, se for sozinho, avise alguém qual sua rota planejada, use colete flutuador, use leash, leve um telefone numa capinha estanque no colete, leve um apito… óculos de sol, boné, camisa com proteção UV, tudo isso também faz parte da segurança. Ah, hidratação e alimentação também! Meu maior susto, que quase custou minha vida, foi em uma travessia de 30km do Guarujá à Praia Grande, litoral de SP. Olhei a previsão de vento e estava prevista uma boa lestada – Vento Leste – na região. Coloquei meu surfski no carro e fui até meu ponto de saída. Minha esposa foi comigo para trazer o carro de volta e me resgatar na Praia Grande. A remada foi sensacional, um downwind perfeito. Downwind é o nome dado quando você sai de um ponto A e chega em um ponto B, aproveitando as ondulações em alto mar formadas pela corrente e principalmente pelo vento, que deve estar alinhado com a ondulação. Torna inclusive o surfski como a embarcação a remo mais rápida atualmente.

Porém, quando eu estava próximo ao desembarque, 30km depois, estavam quebrando ondas muito forte na praia do desembarque. Meu surfski era novo, tinha acabado de importá-lo e fiquei com receio de danificar o equipamento. Esse foi meu primeiro erro, priorizar o equipamento e não a minha segurança. Peguei meu telefone e liguei para minha esposa, avisando que eu iria abortar a chegada em Praia Grande e iria para a cidade vizinha São Vicente. Meu segundo erro foi avisá-la que demoraria no máximo 30 minutos a mais para chegar em São Vicente. Eu já estava fadigado, bem cansado mesmo e minha água havia acabado. Tive que encarar de frente toda força do vento que me trouxe do Guarujá, não foi fácil. Meu terceiro erro foi ter tomado a decisão de mudar minha chegada, sem ter levado em consideração a distância e condições do dia. Remei cerca de 5km com ondas e vento lateral o tempo todo. Por já estar cansado, foi muito difícil estabilizar o surfski. Cheguei a capotar no mar algumas vezes e tive dificuldades em remontar, mas Graças a Deus, tirei forças de onde não conseguia e cheguei no destino cerca de 1h30 depois de ter avisado minha esposa, que já havia acionado o Corpo de Bombeiros pedindo resgate no mar, e eles disseram que naquelas condições não poderiam atender pois não tinham embarcação para tal. Nesse susto ficaram muitos aprendizados.


E qual a melhor história que tem para contar sobre a modalidade?

J.S: Histórias são várias mas acredito que a melhor é a que estamos escrevendo na Canoagem Brasileira. Estamos crescendo cada vez mais e colocando o Brasil no nível mundial. O trabalho é grande, mas a evolução está acompanhando. Oficializamos a modalidade em 2011, em 2013 já participamos do 1º mundial, em 2015 do 2º e 2017 do 3º, esse ano estamos indo para o 4º mundial da modalidade e teremos delegação brasileira presente. O nível dos atletas brasileiros está melhorando inclusive colocando nossos atletas em testes na seleção brasileira de velocidade. Tivemos também o 1º sul-americano da modalidade e logo menos teremos um Pan-americano também. Trabalho para que cada vez mais tenhamos gente remando e que possamos identificar talentos.

Qual a realidade do Surfski no Brasil? Tem algum local que é mais comum?

J.S: Cresce cada vez mais. Vejo marcas internacionais tendo representantes nacionais. Marcas nacionais investindo em tecnologia para morder sua fatia do mercado. Vejo muito intercâmbio de atletas com experiências internacionais inclusive já tivemos um campeão mundial da modalidade vindo ao Brasil para realizar clínicas de aprendizado para iniciantes e avançados. Meu site tem muito material em texto para quem quiser conhecer mais sobre a prática, basta acessar www.sestaro.com.br lá inclusive tem muitos anúncios de equipamentos usados a venda. Já no meu canal do Youtube, procuro mostrar de forma didática como é a prática da modalidade. Acesse: www.youtube.com.br/JeffersonSestaro


Pode citar alguns nomes, revelações da modalidade no país?

J.S: A elite hoje conta com nomes como Luiz Wagner Pecoraro, José Marcos Mendes Filho, Mayko Lucena, Alexandre Felipe Nascimento, Frederico Camargo, entre outros. Inclusive atletas olímpicos praticam surfski como Sebastian Cuattrin, que é embaixador do ROW TO WIN, Guto Campos, Celso Dias, entre outros. Eu gostaria de citar o nome de todos atletas da modalidade no país, pois para mim são campeões. Quem se dispõe a sair de casa para se desafiar, para mim é um vencedor.