No Dragon Boat, Thatha Alves conduz 20 sobreviventes do câncer de mama na batida do tambor


Experiente, Thatha foi chamada por Fabio Paiva, organizador do evento, para essa importante função no evento inédito no Brasil.

Por trás dos grandes espetáculos, a regência é um elemento imprescindível. Para isso, a primeira competição de ‘Dragon Boat’ no Brasil vai contar com uma “maestra” especial: a atleta de canoagem e Stand-Up Paddle, Thatha Alves, vai trocar o remo pelas baquetas do tambor ‘maori’, conduzindo a sincronia das remadas de 20 mulheres sobreviventes do câncer de mama durante o 1º Festival Ka Ora Brasil Baixada Santista, que será realizado neste domingo (23), na Praia dos Milionários, em São Vicente.

O instrumento musical é usado para ditar o ritmo das remadas. O responsável fica na proa (frente) da canoa voltado para os remadores, mantendo a velocidade e sincronia. Experiente, Thatha foi chamada por Fabio Paiva, organizador do evento, para essa importante função no evento inédito no Brasil. “No primeiro treino, senti uma certa dificuldade em coordenar as batidas do tambor. Mas a sensação é fantástica, não vejo a hora de disputar a prova com outras grandes guerreiras”, diz a atleta de 44 anos, que não mede esforços para encarar os desafios nos esportes náuticos.

E não é para menos. Assim como as 20 participantes do ‘Dragon Boat’ deste fim de semana, Thatha é símbolo de superação também fora do esporte. Em 2011, teve um cisto ovariano, que um médico chegou a medicá-la como uma simples infecção urinária. Quando fez o exame CA125, a confirmação: tratava-se de um câncer no útero, que se espalhou pelas trompas e ovário direito. “Descobrimos que era um câncer raro, que foi do útero para o ovário”, lembrou.

Depois de retirar os órgãos, tratou com quimioterapia, radioterapia e braquiterapia. Fazendo exames de rotina em 2014, detectou um novo câncer, agora na mama. Novamente, Thatha iniciou um rigoroso e dolorido tratamento. E não desanimou. Dez dias depois após a última sessão de quimioterapia, mostrou disposta para competir em um campeonato de Stand-Up Paddle, conseguindo até mesmo completar a prova bem.

“O pessoal da canoagem me acolheu muito bem durante meu tratamento”, conta ela, que encontrou no mar a fonte principal para seu processo de cura. Era uma forma de se distrair, estar feliz, ao lado de pessoas que tanto ama.

“Cheguei para o meu médico um dia e perguntei quando poderia voltar a remar. Demorou um tempo por causa de uma operação que fiz, mas depois foi me liberando aos poucos. Eu me ‘jogava’ nos treinos. Sabia que estava bem, preparada”. Amante da vida e ansiosa para a grande celebração com pétalas de rosa durante a final da prova de domingo (23), Thatha mostra sua “maestria” sem pretensões fora do tambor. “Façam os exames de rotina. É preciso se cuidar sempre. O câncer de mama é silencioso e não escolhe idade”, alerta.

COMPETIÇÃO

As regatas serão realizadas no domingo, a partir das 9 horas, mas na véspera os atletas poderão se adaptar às canoas na parte da manhã. Nesse mesmo período, as representantes do IBCPC promoverão uma palestra explicando a relação do Dragon Boat, técnicas de remadas e, de tarde, todas vão para o mar para um treino. “Os benefícios são para elas, mas o grande beneficiado dessa história sou eu. A gratidão por realizar esse evento é incrível, não tem preço. São muitas histórias de vida, e finalmente descobri no Dragon Boat a motivação para fazer a diferença na vida de grandes mulheres vitoriosas”, acredita Fábio Paiva, organizador do evento.

O Dragon Boat comporta 22 pessoas, sendo 20 remando (dez de cada lado), uma no leme e uma no tambor, uma tradição milenar, responsável pelo ritmo das remadas. Na competição, as equipes de sobreviventes contarão com 16 remadoras. Na Sorteio serão dez (seis homens e quatro mulheres). Em cada categoria, os dois melhores tempos seguem direto para a decisão e o terceiro finalista será definido numa repescagem.