Vem a nós e ao vosso reino, nada; um pouco sobre a polêmica do boicote a Canoagem


Polêmica recente envolveu a equipe permanente de canoa velocidade, onde os principais atletas brasileiros se recusaram a competir no evento teste Aquece Rio

Demorei um pouco para expor minha opinião por que eu precisava entender o que estaria acontecendo para os atletas terem boicotado o evento teste e ido à mídia reclamar por falta de pagamentos, mas na matéria exibida no Jornal Nacional, falam que estão recebendo seus valores em dia… difícil entender, não?

Erlon, João Tomasini e Isaquias Queiroz

Veja abaixo a reportagem exibida no Jornal Nacional, de sexta feira (04), e preste atenção nos pontos colocados.

Inicialmente foi divulgado na imprensa que o boicote seria por questão de falta de pagamento dos “salários” e sobre as más acomodações onde a equipe está alojada, lembrando que a equipe portuguesa de canoagem também está hospedada lá e pelo que pesquisei, outros nomes do esporte se hospedam no mesmo local.

Leia aqui as matérias falando sobre falta de pagamento e alojamento.

Pelo andar da carruagem não é bem isso, mas vamos aos pontos.

Recentemente a CBCa – Confederação Brasileira de Canoagem completou 26 anos de existência, e uma publicação de um jornalista especializado em Jogos Olímpicos criticou o andar da Canoagem Brasileira, entitulando a matéria como “São 65 anos de atraso”. Não pude deixar de expressar meus comentários onde expus minha visão de que não eram 65 anos de atraso e sim 26 anos de evolução precoce.

Caso tenha interesse em ler esse meu texto, clique aqui.

Voltando ao caso do boicote no Aquece Rio, evento teste da Canoagem para os Jogos Olímpicos Rio 2016, levando em consideração esses 26 anos de evolução precoce da CBCa e da Canoagem Brasileira, acho que existe uma grande incoerência nisso tudo.

Se a CBCa não tivesse o BNDES e a GE como patrocinadores masters, dificilmente teríamos a real chance de uma inédita medalha olímpica na canoagem e como certeza iriam massacrar a entidade máxima da canoagem como incompetentes. Mas não, a CBCa tem o BNDES e a GE como patrocinadores masters, temos um Centro de Treinamento que funciona bem para a equipe de Canoa e outro CT para a equipe de Caiaque, temos academia, fisioterapeutas, uma vasta equipe trabalhando por trás de cada braçada que um atleta dá para chegar até a tão sonhada medalha olímpica, ou seja, pura competência ao meu ver.

Posso até citar um antigo bordão de que “Nunca antes na história desse país…” tivemos a Canoagem Brasileira no nível que ela está, ou seja, a competência da CBCa, que é presidida pelo João Tomasini Schwertner, e dos seus patrocinadores é grande, diria que uma parceria de grande sucesso.

O BNDES patrocina a canoagem através de projetos que são aprovados pelo banco e esses projetos seguem a risca as exigências de todos os pontos aprovados, pois há prestação de contas de tudo que acontece. É de estranhar que uma equipe permanente, venha reclamar de falta de pagamento de “salários” por um projeto público que financia tudo que eles vivem. Se realmente houvesse desvio de dinheiro ou falcatruas – pois chamaram o presidente de mentiroso, ladrão e outros termos – não teríamos uma notável defasagem da estrutura, teríamos contas reprovadas na hora de aprovar, etc? Creio que sim.

Mas pera lá, na matéria do Jornal Nacional, os atletas citaram que os “salários” estão em dia, mas que não podem estampar seus patrocinadores pessoais no uniforme da Seleção Brasileira. Então a reclamação é outra! Sendo que eles não recebem “salários”, mas sim recebem benefícios como por exemplo o Bolsa Podium, o valor máximo do programa Bolsa Atleta, e pelo que li nas matérias, o presidente da CBCa João Tomasini citou que cada atleta recebeu da CBCa via COB, desde  janeiro até agosto de 2015, R$ 11 mil reais por mês que totaliza R$ 88 mil reais por atleta.

Vamos ao entendimento disso.

O projeto CT Lagoa Santa, local escolhido a pedidos do técnico Jesus Morlan, usou recursos do COB e agora usará recursos BNDES, que exige burocracia para ser aprovado e ter a verba liberada. O tempo para os Jogos Rio 2016 é curto e a CBCa deu o pontapé inicial para começar o Centro de Treinamento em Lagoa Santa, lembrando que este CT foi por exigência do renomado técnico espanhol Jesus Morlan, dentro do previsto em seu cronograma. A verba do BNDES não havia sido liberada pela burocracia e então a CBCa por pura estratégia e para não desamparar seus atletas, solicitou ao COB – Comitê Olímpico Brasileiro – que arcasse com a quantia necessária para manter a estrutura desde o início, inclusive esses benefícios em valores citado pelo presidente aos atletas, até que a verba do BNDES fosse liberada. O COB aceitou e foi uma cartada de mestre para não perder tempo!

Isto feito, o logo do BNDES e da GE são estampados no uniforme da Seleção Brasileira, obviamente. Tudo ia bem, até que veio o boicote. No que percebi, os atletas da seleção de canoa tem patrocinadores pessoais, até ai normal, pois diversos atletas brasileiros de todos os esportes possuem patrocínios pessoais e seu clube ou seleção, outros. Um patrocínio pessoal não ser estampado no uniforme da seleção é normal, eles podem ser expostos em seus remos e caiaques, além das aparições fora da água.

O atleta reclamar e boicotar por não poder estampar seus patrocínios pessoais no uniforme da seleção, por que o patrocinador master da CBCa não havia depositado o valor no tempo em que o projeto enfrentou burocracia, foge da capacidade de atleta.

Pro atleta não interessa se o BNDES ou o COB pagou ou não pagou a verba, isso interessa somente aos dirigentes da CBCa. Se os benefícios dos atletas estão pagos, não tem do que reclamar. Se a estrutura do CT está em dia, não tem do que reclamar. É pá na água e vamos em busca da medalha.

Imagina se o Neymar, que é patrocinado pela Lupo, boicota a Seleção Brasileira de Futebol por que a Lupo não está estampada na camisa da Seleção? Que lógica tem? É regra, é obrigatório usar a camisa da seleção com a marca que patrocina. E se me lembro bem, o Romário quando jogador falava que vestir a camisa da seleção era algo único. Pois bem, os atletas tem as condições que tem hoje em dia, vestem a camisa da seleção do seu país e por ego de patrocinador pessoal tacam uma merda dessa no ventilador? Não acho certo. Acho que a função do atleta é dar seu alto rendimento e a função da Confederação é tratar para que tudo fora do alcance do atleta funcione perfeitamente bem para que ele reme o melhor possível.

Vivemos novos tempos na Canoagem Brasileira. Os investimentos são altos, inclusive para modalidades não olímpicas. É notável o crescimento da gestão que a CBCa faz e faltando 1 ano para os Jogos Olímpicos é quase nada. Acho que devemos continuar focados em remar, cada um no seu papel e depois da conquista (por que até agora ninguém conquistou nada) é que as cartas devem ser postas na mesa para entender o que deu certo, o que não deu e com isso colher os frutos ou arrumar a casa.

Quem perde é a Canoagem Brasileira, infelizmente.

Leia a seguir na íntegra, a nota oficial da CBCa sobre o episódio Aquece Rio

Nota Oficial – Episódio Aquece Rio

Em virtude do boicote às provas do evento-teste Aquece Rio, a Canoagem Brasileira vem por meio desta nota esclarecer os apontamentos feitos pelos atletas Isaquias Queiroz, Nivalter Santos, Erlon Souza e Ronilson Oliveira, à imprensa e à opinião pública brasileira.

Em primeiro lugar é preciso deixar claro que em nenhum momento os atletas e a equipe de canoa masculina deixaram de receber o apoio financeiro à realização de suas atividades e participações em eventos do calendário oficial da canoagem.

Em virtude de atraso no processo de tramitação do projeto CT Lagoa Santa, realizado através da Lei de Incentivo ao Esporte junto ao patrocinador oficial – BNDES, a Canoagem Brasileira se viu impedida, até o mês de agosto de 2015, de receber os recursos do projeto em questão.

Assim, a Confederação Brasileira de Canoagem recorreu ao Comitê Olímpico do Brasil (COB), para que a entidade realizasse o pagamento à equipe de Lagoa Santa até o momento que os recursos do projeto CT Lagoa Santa fossem aprovados em todos os trâmites burocráticos e administrativos.

De janeiro a agosto de 2015 cada um dos quatro atletas receberam do COB (em acordo com a CBCa) R$ 11.000,00 mensais, correspondentes ao valores previstos no projeto patrocinado pelo BNDES que já se encontra contratado e com recursos liberados por parte do BNDES.

Assim o COB deixará de custear a equipe residente em Lagoa Santa.

Mais esclarecimentos em nota oficial emitida pelo BNDES em: http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/Sala_de_Imprensa/Comunicados/2015/201250904_canoagem.html

No link mais informações sobre todos os projetos da Canoagem Brasileira: http://www.abracan.org.br/projetos/

Com relação aos alojamentos CCFEX/FSJ, no bairro da Urca, Rio de Janeiro, (Centro de Capacitação Física do Exército e Fortaleza de São João), estes atendem ao padrão necessário e são utilizados por diversas equipes sem qualquer problema.

O que a Canoagem Brasileira, por meio dos seus patrocinadores e apoiadores – BNDES, GE, Itaipu Binacional, COB, CPB e Ministério do Esporte – solicita é que todos os atletas que representem a Canoagem Brasileira, sem exceção, respeitem as normas da Seleção Brasileira e utilizem os uniformes e representem o país nas competições as quais participam.

Finalmente reiteramos nosso reconhecimento pelo apoio que a Canoagem vem recebendo desde 2011 do BNDES, seu patrocinador oficial, apoio este que já proporcionou à modalidade resultados inéditos e reconhecidos internacionalmente.

Sem mais e aberto a todos os esclarecimentos.
João Tomasini Schwertner
Presidente da Confederação Brasileira de Canoagem